#4. Ser vivo não tem manual de instruções
A gente segue os parâmetros mas esquece de combinar com os peixes
Uma coisa que eu vejo nas rodas de aquaristas desde moleque é um reclamando que determinado peixe não agiu “conforme os parâmetros”. Se tem mais 2 pessoas na roda, há uma grande chance de outro aquarista rebater com “lá em casa eu fiz isso e nunca tive problema”. Gente, peixe é um ser vivo, como nós somos. Ser vivo não tem manual de instrução, e não tem como você reclamar com o fabricante - no máximo com o criador, a depender do caso. O que lemos nos livros, revistas e sites é uma generalização com maior ou menor precisão a depender do caso, mas SEMPRE vai existir aquele que não se comportou como disse o texto.
Pra ilustrar esse meu ponto, trago dois casos. O Victor Souza, ouvinte do podcast e que troca ideias com a gente lá no whatsapp, contou esses dias o caso de uma experiência ruim que ele teve com um kribensis. Montou um comunitário de porte pequeno o kribensis que ele comprou se comportou de forma extremamente agressiva, perseguindo todos os peixes, ao contrário de tantos depoimentos de que é um bom ciclídeo anão para comunitários. Doou para um amigo, que o colocou em um aquário maior, e hoje ele vive lá numa boa. A princípio, o aquário do Victor era de tamanho bom o suficiente para ele, mas aquele indivíduo específico precisava de mais espaço. No meu cubinho nano (que comecei a montar aqui), após o experimento com as plantas eu coloquei alguns camarões neocaridina e 1 casal de endlers (aquele mini guppy). Quando soltei o meu betta plakat resolvi observar antes de decidir se removia ou não. Estão todos lá numa boa, 5 meses depois. Bettas macho em teoria comeriam os camarões e atacariam os endlers, mas o Nicolas (sim, eu dou nome para alguns peixes) vive numa boa com eles.
Quando tiver algum problema, pensem nisso: peixe tem um comportamento esperado, mas as exceções são mais frequentes do que se imagina. Ou, não é porque se diz que um taníctis vive em aquários de 21 a 26°C que ele vai morrer assim que a temperatura chegar a 27. Pode ser que os seus morram com 25, ou que sobrevivam a picos de 28. E aí eu mais uma vez falo “na dúvida, observe”.
Pra ficar mais fácil de me localizar, eu passei a numerar as newsletter. Essa aqui então é a número 4. Não sei se muda algo para vocês, mas pra mim dá um certo conforto ao meu TOC não diagnosticado
Na news de 15 dias atrás, eu falei de um episódio focado em doenças. O episódio estava gravado, faltando só colocar musiquinhas de fundo (eu particularmente gosto, acho que quebra a monotonia e me faz achar minha própria voz mais palatável de ouvir). Mas aí na semana em questão eu tive 2 casos de exoftalmia (pop eye) no aquário, então resolvi aproveitar a experiência para ver se agregava a pauta. Ouvi de novo para ver o que queria mexer e caí na minha própria armadilha: eu achei que minha fala estava um pouco confusa.
Já que iria regravar a pauta, pedi para alguns caras mais experientes que eu ouvirem para dar sugestões, críticas, etc. Foi a melhor coisa que eu fiz, e considero que salvou a pauta. Eu além de ser pouco claro em determinados trechos, eu realmente falei coisas erradas em alguns. Está agora na minha linha de montagem, devo regravar esta semana, para ir ao ar semana que vem. Aguardem!
No subreddit de bettas, tá rolando uma corrente interessante. De uns anos pra cá pipocaram no Youtube diversos vídeos de aquaristas experientes “salvando” bettas vendidos por aquelas petshops gigantes que vendem de tudo e não são especializadas em nada (falam muito da PetCo e da PetSmart, que tem similares aqui no Brasil). Tem muito vídeo bacana, bettas todos murchos em beteiras mínimas, quase morrendo, que são comprados, tratados, bem alimentados, colocados em aquários decentes e depois mostram o antes/depois. Lembro de ter visto um desses vídeos há 3 anos (meados de pandemia) e pensado em fazer o mesmo com um betta que tinha numa petshop aqui perto aonde eu levava nossa shihtzu para banho e tosa. Legal fazer esse tipo de ação, né? Então, há controvérsias.
O ponto do autor da postagem: se muitos aquaristas saírem comprando bettas para serem salvos, numa ótica exclusivamente financeira eles vão pensar “Olha só, esse produto nosso está vendendo muito bem, bora aumentar os estoques!”. Aí estaríamos levando sofrimento a um número ainda maior de peixes. Realmente faz sentido. O mais interessante vem nos comentários: alguns usuários que trabalham ou trabalhavam nas referidas lojas contam que existe uma política de “jogar fora” bettas em situação de quase-morte. Aí alguns contam de bettas que foram resgatados, curados e seguem vivos anos depois da “pena de morte”. Isso eu toparia fazer, numa boa (sem dar um centavo sequer às cadeias de petshops). Quem quiser ler a discussão inteira, dá uma olhada aqui.
Por falar em especialistas, O Jayme Monteiro, engenheiro de pesca e aquicultura que hoje se dedica ao Acará Disco (foi um dos participantes do episódio 18), além de divulgar conteúdo no canal Discus & Aquariofilia no Youtube e no instagram, abriu este mês um grupo de consultoria pago para as pessoas interessadas em criar o “rei dos aquários”. O Jayme fornece material de consulta para manejo sanitários dos discos e está a disposição do grupo para tirar dúvidas. Interessados podem contatá-lo pelo direct do instagram.
Semana que vem, se tudo der certo sai o episódio de doenças, e eu estarei editando a entrevista com um aquarista que possui uma das melhores lojas do ramo no Rio de Janeiro. Grande abraço e nos vemos por aqui!