#3. Na dúvida, observe
Desde que eu voltei com força total ao aquarismo, ali por volta de 2019, me deparo com alguns pedidos de ajuda de quem está começando. Obviamente, os pedidos aumentaram bastante quando abri o instagram de aquarismo (que hoje é o insta do podcast), com os episódios do podcast e finalmente com o(s) grupo(s) de whatsapp. É interessante como em 80% dos pedidos eu realmente não sei o que dizer, de cara. Pergunto uma ou outra coisa adicional, e aí aos poucos chego a um possível conjunto de problemas (trocas parciais insuficientes, luz demais, luz de menos, filtro com problemas, e por aí vai). Mas isso nem sempre acontece, porque falta uma das coisas mais essenciais do aquarismo, mas que pouca gente fala escreve : observação.
Em muitos desses pedidos, mesmo quando eu já tenho um bom palpite do que está acontecendo, eu acabo falando “observa como ele se comporta até amanhã”. Esse conselho se aplica também a quando aparentemente não temos um problema a resolver. Pessoalmente, acho um dos grandes baratos do aquarismo parar um tempo do meu dia olhando e contemplando meus aquários - programa que não tem em nenhuma TV a cabo (ok, tinha o reality ‘Os reis do aquário’ que eu adorava, mas era outra pegada). E foi nessa de ficar observando que eu percebi que cabia uma mudança de configuração no meu aquário principal - o de 225 litros, com acarás disco e inspiração amazônica. Desde poucos meses de montado eu resolvi assumir uma ligeira superpopulação, mas compensando minha ousadia com filtragem superdimensionada e TPAs mais generosas. Coloquei 2 canisters (sendo cada um deles capaz de segurar a onda do aquário, ainda que no limite), mas venho percebendo que nenhum dos dois está em plena capacidade. Com a experiência de anos abrindo e limpando, com uma leitura de textos aqui e acolá, percebo que bastava eu ter um só mais potente do que os 2 rodando em paralelo. E aí a questão recai em custos: um canister maior gasta bem menos energia elétrica do que 2 canisters médios. Dito e feito, estou aguardando a transportadora entregar o novo para fazer a dança dos filtros por aqui.
Leio em alguns grupos que participo os relatos de desovas nos aquários comunitários. Eu por achar muito bacana ver o milagre da vida assim na minha telinha de vidro e (muita) água, confesso que fico com uma pontinha de inveja. Nesse meu aquário atual isso só aconteceu uma vez, com o mais improvável dos peixes: um casal de ramirezis, que eu tinha adquirido da Mundo dos Discos uns 10 dias antes. Dos meus 9 discos, eu já sei que tenho um casal formado, mas nada deles desovarem. Eu no fundo sei o porquê, e tem tudo a ver com a história que eu conto nos parágrafos acima (uma ligeira superpopulação e suas implicações). Mas pensando bem, ainda bem que não tem rolado. Daí lembro da última vez que passei por isso. Eu tinha 2 aquários de porte médio no meu quarto, quando ainda morava na casa da minha mãe (há quase 20 anos atrás). Um deles tinha cerca de 80 litros (60x40x35cm), o outro era um pouco menor, devia ter na casa de 60.
Optei por montar 2 comunitários, com faunas diferentes. O maior tinha algumas melanotênias, matogrossos, neons e corydoras. O menor tinha papilochromis (o que os gringos chamam de bolivian ram), kribensis, paulistinhas e alguns outros. Eis que os kribensis formam casal e desovam atrás de uma pedra. Eu só percebo quando a fêmea parou de aparecer na frente do aquário e o macho passa a agredir todo e qualquer peixe que chega perto. E aí, não tinha muito o que pensar: movi todos os demais peixes do aquário menor para o maior. Me deu um certo trabalho, superlotei um deles, mas deu tudo certo.
Em algum tempo os pais começaram a passear com a nuvem de filhotes, mas acabo perdendo a fêmea no processo - em paralelo um surto de cianobactérias justamente no aquário deles (hoje não sei dizer se a fêmea morreu por causa disso, mas acho provável). Fui lidando como dava - removendo tudo, praticamente todos os dias, e fazendo TPAs frequentes com todo o cuidado. No final das contas, fiquei com uns 7 kribensis adultos (o pai + 6 filhotes) e doei dezenas de outros para amigos e também para lojas. Foi uma bela história, mas olhando pra minha dinâmica hoje, melhor mesmo não ter desova no meu aquário principal…
Depois de longos meses, finalmente chega o frio aqui na Região Sudeste. Eu estava com o termostato do aquário desligado desde outubro do ano passado, e a água dos discos ficava sempre entre 27 e 29ºC. Eu falei para muita gente que o termostato para discos nem era tão importante assim - a não ser para quem mora mais ao sul. Pois essa mamata acabou. Hoje cedo bateu 25 graus, e lá fui eu fazer jus a esse tubo feioso ali do lado do cano de um dos canisters. Quem tiver aquário amazônico, a hora é essa.
Enrola de lá, ajusta de cá, a entrevista que eu citei deve sair. Mas sem pressa pra ir ao ar, em função do meu tempo e do tempo do entrevistado. O episódio sobre os mitos e verdades ficou bem bacana, e muita gente boa veio me dar bons feedbacks. Além disso, ninguém veio questionar uma besteira aqui e ali que eu possa ter dito, mas isso também é ótimo. Claro que eu mentalmente acho que mais cedo ou mais tarde vou dar um bom escorregão, mas por enquanto tô invicto.
Como as férias de julho estão “logo ali”, estou dando um gás nos episódios de conteúdo mais fechado - e isso inclui aqueles que eu falo de alguma espécie ou família de peixe. Vou conseguir dar minha escapada sem deixar vocês na mão, felizmente. Pra semana que vem, tenho dois episódios candidatos: o que eu falo um pouco mais a fundo de doenças mais comuns e seu tratamento sugerido, e o que eu faço um passo a passo de montagem de um aquário médio, com algumas sugestões de peixes. Aguardem, semana que vem, aqui no site, no Youtube e nos principais serviços de áudio e agregadores de podcasts. Cuidem-se e até lá!