#9. Equilíbrio acima de tudo
No aquarismo há pouco espaço para soluções rápidas, radicais e definitivas
O episódio anterior sobre algas foi um dos que eu mais guardei pra gravar e ao mesmo tempo o que foi mais à toque de caixa: fui empurrando com a barriga, deixando para a última hora, <insira aqui sua expressão predileta sobre procrastinação>, e com isso eu gravei literalmente na véspera de ir ao ar (vulgo terça feira). Eu nesses casos costumo ficar com o maior cagaço de ter falado besteira e ter ido ao ar, tanto que eu regravei um trecho inteiro, na própria terça. Aí o episódio zarpou e, dois dias depois, chegam os adendos ao que eu falei no meu whatsapp.
Eu inventei de dar duas cutucadas no Robson, da Base Flora, mas felizmente não foi para apontar alguma grande bobagem proferida por mim. Em resumo, os pontos dele foram:
Algas, por serem seres mais mais simples que as plantas, precisam de muito menos para prosperarem no aquário. Isso no entanto reforça o argumento de que você mantém algas sobre o controle fortalecendo as plantas, para que elas ganhem a “queda de braço” pelos recursos disponíveis;
O CO2, ao contrário do que muitos pensam, não inibem as algas. O que ele faz é potencializar o crescimento das plantas, fazendo com que elas consumam muito mais recursos disponíveis (nutrientes e luz). Esse maior consumo é que inibe as algas;
Não existe aquário sem algas (ps: é o fitoplâncton, afinal de contas), o que se fala é em controlar as algas, e não eliminar;
Muita gente entra em desespero quando tem algas no aquário, e sai fazendo um monte de coisas para eliminá-las. Mas aí as pessoas não tem paciência de esperar, passam-se dois dias, já julgam que não deu certo e tentam outra coisa. Isso só piora as coisas: toda e qualquer ação precisa de umas duas semanas para mostrar resultado.
Esse último tópico é quase meu mantra no aquarismo (“pare e observe”) e é o fechamento da entrevista com o próprio Robson, no início desta temporada (“paciência”). Como se diz hoje em dia: fica a dica. No próximo episódio vou falar sobre isso na introdução.
A minha boa fase com plantas tem mostrado resultado justamente nessa janela mais longa de 2 semanas que eu citei acima. Eu era do time dos que evitavam fertilização líquida no passado por acreditar que isso “potencializa as algas”, e com o aprendizado deste ano ao gravar tanta coisa falando de plantados fui aderindo aos poucos. Comecei com o básico NPK no início do ano, depois fui entendendo melhor o papel de cada nutriente e experimentando outras abordagens. Como um aquário com fauna rica já produz nitratos e fosfatos (por conta do ciclo do nitrogênio), em tese eu só precisaria do K (potássio) do NPK. De uns tempos pra cá estou colocando só potássio e microelementos, e agora começando a adicionar ferro.
O resultado tem me agradado tanto que resolvi buscar plantas diferentes para compor. Dentro da proposta do meu aquário de discos, o que funciona melhor é colocar epífitas (plantas presas à decoração), e com isso saí a caça de bucephalandras (planta bem bonita da Ásia, que não é tão fácil de encontrar por aqui). Consegui com o André da Flora Aquática, que foi muito atencioso e tem uma grande variedade de buces disponíveis. Comprei duas, que chegaram lá em casa no dia seguinte da postagem. Coloquei ambas no principal, e estou observando. Depois conto pra vocês o resultado.
Outro dia no nosso grupo de whatsapp estava comentando que vou comprar areia e talvez alguns pedaços de tronco para refazer o hardscape aqui do aquário principal. Aí via de regra chovem indicações de produtos anunciados em sites como Mercado Livre, Aliexpress e Shopee. Agradeci, mas educadamente (espero!) recusei, indicando que vou procurar em loja física. Parece uma loucura, especialmente depois do mundo inteiro ter passado quase 2 anos só comprando via internet, mas esse é um dos motivos: a facilidade do online é sim uma ameaça às lojas tradicionais. De fato, você encontra uma maior variedade com preços imbatíveis, mas para certas compras simplesmente faz muita falta ter aquela loja confiável, onde você vai com a cabeça feita comprar produto X, mas conversa com o lojista que acaba te indicando Y em função da experiência dele. Isso sem falar naquilo em que a loja física é imbatível: peixes e plantas.
Aí alguns costumam argumentar: “ah, eu posso comprar só os peixes e plantas na loja, e os demais produtos eu peço via internet”. Uma ótima ideia, mas que não é sustentável. A margem de lucro da venda de animais e plantas é muito baixa (não suficiente para que uma loja se sustente), e se você é um aquarista responsável você não espera comprar peixes todo mês, quer que eles durem por muitos anos. Isso significa que eu só compro nas lojas? Infelizmente não. Mas ao menos eu primeiro procuro o que eu quero nas minhas lojas preferidas, depois parto pro comércio eletrônico.
Tudo isso para dizer que enfim a entrevista que eu tô prometendo há meses vai rolar, e pinta semana que vem por aqui. O papo segue mais ou menos essa lógica que eu coloquei acima. Aguardem que vai ser bacana!