Lá estava eu, todo pimpão, planejando um upgrade de equipamento no meu aquário. Eu tinha 2 canisters médios rodando em paralelo (e gastando watts, diga-se de passagem), e cheguei a conclusão após ler em alguns fóruns que eu teria a mesma eficiência de filtragem com um canister um pouco maior, só que com um gasto de energia de apenas 1 filtro. Estava tão confiante que me preparei todo para a troca, documentando o processo. Mas aí vem uma frase que eu aprendi há alguns anos e que é um dos meus mantras: “o homem faz planos, e Deus ri”.
Comecei o processo todo confiante, numa janela de 2 horas que eu tinha dentro da minha rotina. Grava daqui, abre caixa dali, monta tudo, passa mangueiras, tudo pronto. Na hora de ligar, nada. Bombeei a válvula de priming, e nada. Tava chegando a hora de sair de casa para fechar a rotina do dia (filha na escola, jantar, etc) e eu ainda sem nenhum filtro funcionando. Na hora eu montei rapidamente um dos antigos, coloquei pra rodar de qualquer jeito e deixei o novo montado do lado do aquário para ver com calma no dia seguinte. Esse foi aquele momento em que eu praguejei pelo fato do manual do filtro não ter nenhuma frase sequer, somente imagens e setinhas.
No dia seguinte, eu ainda preocupado com a saúde das bactérias presentes nas mídias dos filtros antigos (insira aqui o meme do Luke Skywalker dizendo “the sacred jedi texts!”). Faço uma troca de água, entro com acelerador biológico e paro pra analisar cada parte do filtro para identificar o problema. Estava intrigado para entender como é que eu conseguia encaixar e desencaixar as válvulas ligadas às mangueiras sem molhar tudo em volta, e foi aí que descobri o problema.
Na lateral do adaptador onde se encaixam as mangueira, tem duas alavancas pretas que, encaixadas na cabeça do filtro, abrem / fecham as válvulas quando você mexe a alavanca correspondente. No meu caso aqui, a alavanca da válvula de entrada de água estava emperrada, e não estava abrindo quando eu movia a alavanca. Umas mexidas de alicate, e tava tudo ok!
Depois disso, o trabalho braçal: desativar o filtro antigo, retirar mangueiras, reposicionar filtro novo, colocar pra funcionar. E aí, 7 dias adicionando acelerador biológico e trocando 40% da água do aquário a cada 3 dias para minimizar problemas com amônia. Tudo certo agora, já retiro minha queixa quanto aos manuais do fabricante.
Depois de muito esforço, horas de consultoria e um bom tempo de regravação e edição, saiu finalmente o episódio sobre doenças e cuidados. Esse com certeza foi o episódio mais difícil que eu gravei, e que mais me trouxe aprendizados tanto na montagem da pauta quanto na execução. De brinde, ainda exercitei o que eu falei no episódio para tratar 2 discos com pop-eye e, semana seguinte, para salvar um ramirezi de um ataque bacteriano.
No pós publicação, o Jayme ainda me trouxe alguns bons adendos ao que eu disse, e me trouxe uma boa visão simplificada de como entender os agentes causadores de doenças. Eu queria montar um infográfico bonito para colocar aqui para vocês, mas vai ter que ser texto puro:
Parasitas: protozoários flagelados (hexamita, spironucleos, costia), protozoários ciliados (ictio, oodinium), trematóides (dactylogyrus, gyrodactylus), cestóides (tênias) e nematóides (capillarias, camallanus, ascaris)
Bactérias: ataque externo (olho saltado, nadadeiras roídas, etc) e ataque interno (problemas na bexiga natatória, peixe “maluco”)
Fungos: saprolegniose (tufos de algodão em feridas)
Uma coisa que eu comentei bastante durante esse episódio de doenças: a gente hoje tem acesso a muita coisa boa de diversos fabricantes mundo afora (filtros, luminárias, alimentos), exceto medicamentos. Aí fica para muitos a impressão de que nossos aquários funcionam no século XXI, mas quando tem alguma doença temos que voltar à Idade Média.
Não encarem como uma crítica, mas como uma constatação: os medicamentos específicos para aquarismo disponíveis hoje são os mesmos que estavam disponíveis quando eu comecei no hobby na década de 80. Acho que a única exceção é o Aqualife (composto por cloridrato de acriflavina), que se não me falha a memória foi lançado nos anos 90. Para muitas das doenças que eu citei no episódio, são usadas outras substâncias (como o permanganato de potássio, para tratar trematóides), enquanto que lá no exterior já existe um medicamento específico para aquarismo. Em alguns casos, medicamentos que podem ser usados no aquário principal. Segundo conversei com alguns, esses produtos não chegam ao nosso país por restrições da ANVISA. Confesso que estou curioso, vou tentar descobrir.
Já falei algumas vezes no podcast (em especial no episódio sobre acará disco), mas vale repetir: além das rações disponíveis no mercado (entre as quais costumo comprar Poytara, Tropical e as vezes Nutricon, que é mais difícil de encontrar no Rio), uma boa opção para alimentar nossos peixes é um patê feito com proteínas frescas e com ingredientes suplementares. Não é uma grande novidade no aquarismo (o patrono dos livros de aquarismo Gastão Botelho dava duas receitas no livro dele, publicado na década de 70), mas felizmente agora é mais fácil de encontrar comercialmente, para quem não quer se aventurar a fazer. E aí aproveito o ensejo para indicar o patê Forza Discus, que você pode comprar pronto (cubos congelados) em lojas do Rio e SP (acho que também em Brasília), e também uma versão em pó para fazer o seu próprio patê em casa e congelar (para demais localidades).
Por hoje é isso, semana que vem temos podcast. Até quarta que vem!