#36. O recomeço
Criando velhos hábitos com novos peixes
Hoje dou uma pausa nas newsletters mais informativas para detalhar um causo real. Desde já peço desculpas porque vai ficar meio longo. Lá vamos nós.
No início de setembro passei por um tremendo baque: numa conjunção de pequenos problemas (TPA na correria, água inadequada e uma viagem às pressas), num espaço de 24 horas eu perdi 7 dos meus 10 acarás disco. Foi a segunda grande perda que tivemos desde que entrei de sola nesse nicho de focar em acará disco, ou seja, julho de 2019. Como prega a Lei de Murphy aplicada ao aquarismo, quando você passa por uma perda, morrem primeiro seus peixes prediletos. No meu caso, os 7 maiores peixes do cardume, inclusive meu casal sensação (Juvis e Mundinha), que desovava a cada 15 dias e por pouco não consegui que uma ninhada vingasse.
Passado o luto (não apenas meu, mas de toda a família), resolvemos que seguiríamos nossa “vocação” (com muitas aspas) de entusiastas do acará disco, e formaríamos um novo cardume. Do anterior sobraram um filhote de selvagens nascido em cativeiro (Zezinho), um branco (snow white) chamado Zeca e o menor de todos, um tiger pigeon de no máximo 8cm que ganhou nome de Charly mas acabou virando Pimentinha em função das pintinhas pretas (peppering). Todos os 3 há poucos meses no aquário, e de comportamento mais arredio. Os discos mansos, que comiam na minha mão e se acostumaram ao movimento da casa? Nenhum deles, infelizmente. Fiquei somente com esses 3 por algumas semanas enquanto sondava o mercado e esperava a poeira abaixar (no sentido figurado, claro). Os discos seguiam escondidos praticamente o dia inteiro, não vinham sequer comer. À noite, vi que davam umas passeadas e beliscavam restos de comida. De fome não morreriam, felizmente.
Passadas duas semanas, consegui mais 3 exemplares de padrão bem bonito com o Antônio (um stardust, Maraísa, um red royal, Caramelo, ambos com cerca de 9cm, e um blue diamond, Afonso, de aproximadamente 7cm). Com isso tinha chegado no meu número mágico de cardume de discos: 6. No entanto, todos seguiam reclusos, se escondendo. Mesma coisa de antes: assustadiços, só passeando a noite e comendo os restos de comida ao fundo quando não tinha ninguém perto do aquário. Para nós, um tremendo anti-climax: o grande barato de manter acarás disco ao longo desses anos era esse comportamento de bicho de estimação (pet) que eles adquirem. Puxei na memória pra ver se eu estava esquecendo de fazer alguma coisa e me toquei que, desde 2019 (a Manuela, um blue turquesa já adulto que durou pouco mais de 3 anos com a gente), praticamente toda vez que eu inseria um novo peixe, tinha um grandinho e/ou dominante que no final das contas doutrinava os novatos. Agora os veteranos eram 2 peixes que não pegaram a tempo o comportamento dos demais (Zeca e Zezinho).
Resolvi tentar forçar um pouco a barra, para deixá-los o mais a vontade possível para serem ganhos pelo estômago. Primeiro fiz uma limpeza de parasitas externos (algo que costumo fazer de tempos em tempos, especialmente quando há um comportamento anormal), depois aumentei a temperatura do aquário para cerca de 30°C para acelerar o metabolismo, e por fim reduzi a alimentação para 2 vezes ao dia, em horários bem definidos - para isso, eu voltei a colocar um alimentador automático jogando uma mistura de ração proteica com ração baseada em alho (de alta palatabilidade) na parte da manhã e dando patê congelado no fim do dia. Com isso, aos poucos foram perdendo a timidez. Mas o que resolveu de fato foi algo inusitado: a morte do Zezinho (o F1 de selvagem). Ele já vinha há algum tempo resistindo a duras penas, apesar de eu tentar limpeza de parasitas internos e externos algumas vezes. Justo ele que era o mais tímido dos F1 que eu tinha (os outros dois morreram na tragédia de setembro). No dia seguinte da morte dele, estavam lá todos do cardume passeando pelo aquário. Daí em diante, pegaram o mesmo comportamento dos meus antigos peixes: sempre com fome, sempre ativos e toda manhã estacionados no canto superior direito do aquário, quase adivinhando a hora de funcionamento do alimentador automático.
Esta semana, o cardume ganhou mais 2 exemplares (um lindo blue turquesa que agora se chama Pedro e um pigeon amarelo chamado de Maiara). E já no primeiro dia no aquário entraram no espírito dos demais: nadam à vontade por todo o aquário e estão constantemente com fome.
Lições aprendidas
Se está com pressa e/ou vai ficar algumas horas em casa, melhor deixar a manutenção do aquário para outro momento. Instabilidade é o maior inimigo do aquarista.
Peixes requerem paciência e boas condições de saúde para viver bem e adquirir hábitos. O jogo só virou quando eu trouxe conforto aos peixes (pela limpeza de parasitas e mexendo na temperatura).





Cara que texto bacana e reflexivo...
Me remeteu as minhas tpa que deixei de fazer por ter algumas horas disponíveis antes de comparecer em algum compromisso, ou algo do tipo.
Entrei no aquarismo por conta do meu guri por querer um peixe e por termos optado na época por um Betta e infelizmente, temos perdido três em menos de dois meses... Tal perda se deu por termos aquele pensamento de que (com pouco o peixe sobrevive e não dá trabalho)...
Após perder o terceiro Betinha eu parei e conversei com a patroa e optamos por estudar e quando me sentisse confiável, montaria um aquário de verdade...
Estudei e consegui montar um 30x30x30 e tenho conseguido mantê-lo com meu guri me ajudando nas tpa e na realização dos testes. Com isso estamos conseguindo proporcionar aquilo que o peixe necessita, no caso mais um beta o *sem nome* rs... Recentemente inserimos algumas plantas como Elodea, Anubia e Microsorum que modesta parte estão se desenvolvendo bem pelo o que tenho observado.
Por fim, estamos indo para o quarto mês do aquário montado e três meses com o sem nome... E a cada dia que passa, eu procuro ter mais paciência e ver o que posso fazer, rever o que foi feito e prever o que pode acontecer...
Vontade de fazer muitas coisas e ter outros aquários, todos temos quando entramos neste mundo maravilhoso, mas por hora estou conseguindo respeitar o " tudo ao seu tempo" e seguir proporcionando o que eu posso mas com o máximo de qualidade que consigo e com meu guri ao lado.
Tenho aprendido bastante com seus conteúdos e sempre ouço seus episódios.
Obrigado demais!
Abraços