Filtros: montar e usar, ou tem alguma ciência?
Durante esses quase 4 anos de podcast, posso afirmar sem olhar os logs que o tema que mais pega pra quem ouve e pra quem interage é o que eu chamo de manejo sanitário: como mantemos os nossos aquários limpos, saudáveis e longe dos grandes problemas. Eu bato sempre na tecla da troca parcial de água (TPA) porque nos aquários de água doce é um dos principais recursos para se remover o excesso de matéria orgânica diluída na água. Quase sempre o contraponto de quem não quer ou não acredita na eficácia das TPAs (ou tem preguiça de fazer, que faz parte também) passa pela qualidade do filtro usado no aquário. É verdade, isso contribui e MUITO para manter o aquário saudável. Mas não é tudo.
Justamente por causa disso, depois de uns 3 episódios tocando no assunto do ciclo do nitrogênio e da manutenção periódica dos aquários (onde eu puxo a carta da TPA), eu resolvi gravar um episódio só falando de filtragem. Acho até que demorei a falar disso, era pra ter sido logo na primeira temporada. Mas de fato eu não tinha segurança de falar sobre isso naquele momento. Melhor pra mim e melhor pra vocês.
Mas aí você se informa, escolhe um método de filtragem que melhor se encaixa no tipo de fauna que pretende ter e tá tudo resolvido? Nem sempre.
As montagens sugeridas pelos fabricantes
Muitos aquaristas iniciantes (e até os mais tarimbados) escolhem seus equipamentos confiando (e muito) nas especificações técnicas. Até aí faz parte. A questão é que elas nem sempre entregam aquilo que a gente precisa saber. Um bom exemplo é a vazão: montamos nossos aquários pensando na regra de girar a água do aquário de 5 a 10 vezes por hora dentro do filtro, e com isso raciocinamos com o volume do aquário e fazemos mentalmente a multiplicação. Só que muitos fabricantes colocam nas especificações dos seus filtros a potência máxima da bomba - seja nos hang-ons, seja nos canisters. Ou seja, esse valor nominal desconsidera qualquer obstáculo pelo qual a água encontre. No caso dos canisters, se o fabricante diz que o filtro tem uma vazão de 1000 litros por hora, essa muitas vezes é a potência máxima da bomba. Num filtro com mídias, é simplesmente inatingível. Talvez com ele todo vazio chegue perto disso. E aí eu sempre falo para as pessoas: na dúvida, pegue um filtro com vazão nominal maior (eu mentalmente calculo que a perda de eficiência fica na casa dos 50%).
Outros fabricantes simplesmente fazem essa conta pra você e informam: “filtro para aquários de até X litros / galões”. Eu acho mais honesto (especialmente se é de uma marca consagrada), mas muita gente é induzida ao erro: “meu aquário tem 100 litros, aqui na caixa tá dizendo que o filtro é para até 120 litros então tudo bem”. E aí no momento seguinte coloca peixe até não poder mais. Se você é tipo eu, que não consegue resistir ao impulso de aumentar o cardume, compre um filtro maior.
Outro ponto muito importante, que surgiu no nosso grupo de whatsapp há algumas semanas e também no grupo de clientes do Forza Discus: você monta as bandejas do filtro escolhendo as melhores mídias e com perlon novinho, mas o filtro parece não funcionar direito. Aí eu digo que aquela propriedade matemática que a gente aprende no ensino fundamental não se aplica ao aquarismo: a ordem dos fatores ALTERA o produto. Muita gente coloca o perlon na última bandeja e enche as demais de mídias. O que acontece? As mídias ficam cheias de partículas, fazendo a água não circular direito e com isso reduzindo a colonização pelas bactérias benéficas. O perlon no final satura rápido e com isso a vazão como um todo cai bastante (mesmo que você troque toda semana). Eu demorei um tempinho para chegar em um modelo ideal para isso, e isso graças ao canal PondGuru. Aí eu costumo fazer assim:
Filtragem mecânica: as grandes impurezas: em geral uso a espuma que vem com o filtro, mas agora investi em um canister que tem um pré filtro com uma espuma que deixa passar mais água (que eu limpo em todas as TPAs), e deixo a 1ª bandeja com uma espuma mais densa. Essa é a parte que eu sempre limpo quando abro o canister.
Filtragem biológica: as bandejas seguintes eu coloco as mídias biológicas todas, o máximo que conseguir sem entulhar (porque não queremos que a vazão caia muito).
Filtragem química (quando aplicável): tem muita gente que não vive sem uma bolsa de carvão ativado ou purigen, mas não é o meu caso. Já usei no passado, mas estou satisfeito sem isso no momento. Mas em geral colocamos na última bandeja antes da volta da água para o aquário. Ao invés disso, eu coloco nessa bandeja uma bolsa com aragonita, para regular a dureza de carbonatados (KH), já que a água que eu recebo em casa é totalmente zerada.
Essa news de hoje tinha um assunto completamente diferente: por que muitos de nós dependem de variantes de cativeiro importadas, e sofre tanto com a Portaria 102 do IBAMA? No meio do caminho, achei que valia falar disso em um episódio ao invés de escrever, dentro dessa proposta de fazer perguntas e não dar respostas. Vamos ver no que vai dar (vem aí no segundo semestre). Grande abraço a todos!