#13. Toda escolha tem consequências
O certo e o errado se baseiam nas suas escolhas, aprenda com elas
A geral que eu dei no meu aquário principal acabou rendendo boas conversas no nosso grupo de whatsapp. Como eu falei outras vezes, o que há algumas décadas era cotidiano no aquarismo se tornou quase um tabu: como assim esvaziar, limpar e refazer a montagem/decoração?
Engraçado isso, pois era algo que praticamente TODO aquarista fazia, num intervalo de pelo menos 3 meses. E arrisco dizer que essa prática foi um dos principais fatores que afastou muita gente do hobby ao longo dos anos. Impressionante como sempre que eu falo para pessoas aleatórias que faço um podcast de aquarismo, a devolutiva de muitos é : “pô, eu tinha aquário quando era criança, mas desisti porque dava muito trabalho”. Aí 2 ou 3 perguntas depois, vejo que estavam se referindo as limpezas.
Voltando ao rescaping: eu sempre fui um ferrenho defensor dos aquários plantados, e confesso que ainda acho estranho aquários só com peixes (mesmo entendendo que “é o que temos pra hoje” no caso de um aquário de kinguios, ciclídeos africanos ou jumbo). Mas agora quase 1 mês depois que eu montei o principal com plantas apenas presas na decoração, acho que fiz a escolha certo. Tá bem mais fácil de mantê-lo limpo, e consigo ver bem mais os peixes de cardume e peixes de fundo. Mas aí vem a pergunta: será que eu fiz a coisa certa? Enfim cheguei ao ponto desse texto.
Não só no aquarismo, mas em diversos outros hobbies, a gente começa nossa jornada de experiências e aprendizado com um set de regras: pode isso, não pode aquilo, e por aí vai. Aqui e no podcast eu mesmo solto alguma dessas pérolas. Mas o mais importante está numa das minhas respostas prediletas para as perguntas corriqueiras: depende. O chato é que isso pressupõe uma explicação, muitas vezes nada simples, ou, depende do que? Por isso muitas vezes é mais garantido dizer uma série de regras para quem tá começando, pois isso acaba prevenindo um conjunto de bobagens que podem levar a um grande problema. Mas se você tem me acompanhado há algum tempo (desde o início é pedir demais), pode perceber o “depende” navegando nas minhas respostas. Pode ter 12 acarás disco num aquário de 200 litros? Pro iniciante é um categórico “não”, mas é uma regra? Também não.
Se você ouvir o meu episódio sobre o acará disco, por exemplo, (o primeiro que eu consigo trazer outras vozes pro meu habitual monólogo), vai ouvir o Antônio dizer “eu recomendo fazer TPA todo dia. Pode fazer só 3 vezes por semana? Pode. Pode fazer 1 vez por semana? Também pode, mas eu não recomendo”. Nesse nosso hobby muito calcado na ciência, o caminho do depende passa por um conjunto relativamente grande de variáveis, e o sucesso está na habilidade de equilibrar o maior número de pratinhos possível nas escolhas que a gente faz ao lidar com essas variáveis. Pegando meu exemplo: quando eu resolvi ter um aquário de acarás disco como protagonistas (numa conversa que eu tive com o Victor Hugo em meados de 2020), eu tinha o set de regras bem claro pra mim: aquário maior, filtragem superdimensionada, introdução de muitos indivíduos para facilitar o estabelecimento da hierarquia do cardume, um bom regime de trocas parciais. Fui nesse caminho com esse aquário montado em 2021 que eu refiz agora, mas em dado momento vi várias recomendações para que ele não fosse plantado. É proibido ter plantado com discos? Com certeza não é, mas é uma escolha que traz consequências. Ideal não ter uma fauna muito grande em função da biomassa produzindo dejetos todos os dias, mas quem disse que eu consegui me controlar? Toma cardume de neon, rodóstomus, tetra limão, foguinho. E essa compulsão também teve seu preço. Após quase 4 anos convivendo com essa escolha, eu resolvi fazer umas mudanças de curso em função das consequências. Com muitas plantas, uma parte considerável dos dejetos ficavam retidas junto as raízes e nas moitas formadas. Isso demanda TPAs mais elaboradas, mesmo com filtragem superdimensionada (lembrando que o filtro não faz sumir os dejetos). Maior quantidade de peixes agrava um pouco mais o problema. Até que em dado momento eu quis ter uma rotina de manutenção mais tranquila, e resolvi simplificar as coisas. Não cheguei aonde queria, mas estou no caminho.
Aí volta o dia a dia, e tanto no whatsapp quanto no instagram eu venho recebendo perguntas parecidas: “meu aquário de 100 litros tem 30 peixes, tá bom ou tem peixe demais?”, “comprei um aquário de 30 litros para meus filhos e colocamos 10 peixes, fiz certo?”, “quero montar um aquário hoje, mas não quero esperar ciclar e quero aproveitar a promoção da loja aqui do bairro para colocar peixes, posso?”. Na cartilha das boas práticas, vou responder a primeira com “tem peixe demais, doe para alguém”, a segunda com “só se forem peixes bem miúdos” e a terceira com “sossega o facho”. Mas de verdade, nas três perguntas a melhor resposta é o “depende”. O primeiro pode ter sucesso se tiver rodando um sump com metade do volume do principal e fizer trocas boas 2 vezes por semana, o segundo pode já ter coridoras anãs e rásboras em mente e ser um cara cuidadoso com manejo e manutenção, o terceiro pode ser aquarista cascudo, amigo do lojista, e tá montando aquário já projetando TPA dia sim dia não por 15 dias e uso de acelerador biológico. A gente do lado de cá nunca sabe o que se passa na cabeça de quem pergunta, mas assume que se está perguntando, não sabe muito bem o que tá fazendo. Acontece. Independente disso, e mesmo que for na teimosia e ignorar os conselhos, lembrem que aquarismo é ciência, e ciência também é tentativa e erro. Se você aproveitar a jornada e aprender no processo, já será um aquarista melhor logo ali na frente.
Falei demais, então fica só o recado pra vocês seguirem acompanhando as postagens da news e do podcast. Semana que vem tem programa, se tudo der certo mais uma entrevista. Já pensem em possíveis temas para a 4a temporada e mandem pra mim. Grande abraço!